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A evolução de uma banda - O caso The Gift


É bastante interessante observar a evolução de uma banda/grupo/projeto ao longo do tempo. Algumas matem o estilo com poucas modificações, já outras subvertem o gênero e acabam transcendendo o estilo inicial para algo impensado. De acordo Bauman, sociólogo polonês, vivemos na chamada "modernidade líquida", ou seja, tempos de "vulnerabilidade e fluidez, incapazes de manter a mesma identidade por muito tempo, o que reforça esse estado temporário das relações sociais" (ABDO, 2016). Assim, essa "ausência de fidelidade" a um estilo/gênero é algo mais comum do que imaginamos por se tratar de uma característica do período em que vivemos.



Observando a banda The Gift, podemos notar facilmente a forte mudança de estilo da grupo ao longo da sua existência.


The Gift é uma banda portuguesa nascida no ano de 1994 e formada por Sónia Tavares (vocal), Nuno Gonçalves (teclado), John Gonçalves (teclado e baixo) e Miguel Ribeiro (guitarra e baixo). Em sua discografia constam os seguintes álbuns:

Digital Atmosphere (1997) [Demo sem versão comercial]

Vinyl (1998)

Film (2001)

Am-Fm (2004)

Fácil de Entender (2006) [ao vivo]

Explode (2011)

Primavera (2012)

20 (2015)

Altar (2017)

No primeiro disco oficial do The Gift, Vinyl (1998), encontramos uma sonoridade experimental, uma busca por identidade tão comum aos primeiros álbuns de qualquer banda. Aqui podemos notar a utilização de elementos eletrônicos e orquestrais, e, também, uma fronteira não muito definida entre o rock e o eletrônico. Já de cara podemos perceber a predileção por contrastar as músicas com elementos "ruidosos" e "não ruidosos".


Ok! Do You Want Something Simple? (Vinyl - 1998)


Film (2001) é o segundo álbum e possui uma sonoridade mais introspectiva. Aqui o elemento eletrônico é colocado um pouco na geladeira e vemos um The Gift mais maduro e com arranjos orquestrais mais rebuscados. Ainda há o contraste entre "ruído" e "som agradável". Por fim, Film é um surpreendente disco com excelentes músicas como: Front Of; Me, myself and I; Clown; Five Minutes of Everything e Song for a Blue Heart.


Front Of (Film)


Ainda no disco Film, a ultima música Actress (Am-Fm) parece prever o que viria a seguir. Am-Fm é justamente o nome do próximo disco do The gift, disco este que inicia com a música I Am Am apresentando uma variação dos elementos finais da música Actress (Am-Fm). Voltam os elementos eletrônicos, continuam os contrastes entre "ruído" e "não ruído", as músicas se tornam mais experimentais e a sonoridade é bem moderna. Já podemos perceber a banda caminhando para o seu ápice. As músicas de destaque são: I Am Am; Wake Up;11:33; Driving You Slow; Music.


Driving You Slow (AM-Fm)


E eis que surge a obra prima do grupo. Explode (2011) é o quarto álbum oficial e mostra o The Gift no auge da sua evolução. O nome é auto explicativo, o disco tem tamanha carga de energia que o ouvinte não consegue respirar entre uma música e outra. O eletrônico domina a cena, as músicas são altamente criativas e belas, o "ruído" se funde ao "não ruído" e só há um caminho: a explosão. Apesar deste ser o tipo de álbum que deve ser ouvido por inteiro, gostaria de destacar algumas músicas:


  • Let It Be By Me - inicia o disco com uma verdadeira confusão musical em perfeita sintonia.

  • Made For You - inicia com uma aparente confusão no pulso do piano com o restante dos elementos musicais, possui três partes fantásticas e distintas (Forma A-B-C).

  • RGB - se o ouvinte ainda não explodiu é provável que exploda agora. A música inicia até tranquila em comparação as duas anteriores, entretanto, a tensão vai aumentando até não ser mais possível suportar e tudo se explode em cores.

  • The Singles - Com o tempo de 12:20, esta música é metamorfose pura. Inicia com um tema e se perde no meio do caminho até se reencontrar no fim, em uma palavra: fantástica!

  • Primavera - Música em português e que vai originar o próximo disco.

  • Race is Long - Música eletrizante, cheia de energia, temas fáceis e empolgantes.


Explode é álbum altamente criativo, cheio de cores!

Making Of do disco Explode

O próximo disco do The Gift é criado a partir de uma música: Primavera. Saímos de uma explosão de cores pra algo monocromático, intimista. O álbum Primavera (2012) é basicamente voz e piano, a banda migra de um rock eletrizante e energizado para algo suave e acústico. Como pode tamanha transformação de um disco para outro, de um ano para outro? É outra banda! Primavera é um Cd bem equilibrado e cheio de surpresas.


Sehnsucht (Primavera 2012)

20 (2015) é um álbum comemorativo aos vinte anos de existências do The Gift, assim, temos basicamente uma coletânea dos melhores sucessos do grupo até o momento. Porém, destacamos a única música inédita: Clássico. Tal música retorna a sonoridade orquestral da banda e possui uma estética bem vintage, bem dramática, bem portuguesa.


Clássico (20)

Por fim, este ano está previsto o lançamento do disco Altar (2017). Trata-se de uma parceria com o famoso músico/produtor/compositor Brian Eno e, pelos singles que já foram divulgados, mostram o The Gift bem experimental e eletrônico, sai de cena a dramaticidade e introspecção dos últimos 2 álbuns e entra o eletrônico/disco.


Big Fish (Altar)

Assim, analisando os álbuns dos grupos musicais atuais podemos perceber a inconstância no estilo, e muitas vezes no gênero, que os grupos apresentam. De um disco pra outro tudo pode mudar e não se trata apenas de querer se adaptar a um mercado, como aparentemente pode parecer, e sim de uma característica do período em que vimemos, tempos de pura liquidez.





Prof. Luiz Eduardo

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